Barco é coisa de rico? Será mesmo? Comecei a trabalhar aos 12 ou 13 anos, meio a contragosto. Mais que necessidade financeira, esta foi uma imposição da minha mãe. Ela trabalhava fora e assim não queria que nas férias escolares eu ficasse na rua aprendendo o que não é certo. Desse modo, na adolescência acabei passando por banca de jornal, pizzaria, supermercado (empacotando compras no caixa), carrinho de sorvete na praia e também em balcão de sorveteria.
A magrela e a Ninja
Em meados de 1990 eu já estava com 17 anos. Agora trabalhava em meu primeiro emprego com carteira assinada. Não era nada demais, fui contratado como digitador na companhia de energia elétrica aqui de São Paulo através de uma empreiteira. Como morava em Santos e o dinheiro era curto, fazia os 40km do trajeto de ida-e-volta até o Guarujá de bicicleta, onde meu turno solitário ia das 18h até as 24h. Nesta época morava com os pais e minha maior preocupação talvez fosse decidir o programa de fim de semana com a namorada. Ainda não tinha planos para o futuro, levando a vida de uma maneira leve e até ligeiramente irresponsável.
Ao retornar do trabalho, costumeiramente encostava minha bicicleta em um canto da balsa para apreciar a paisagem noturna da travessia até Santos. Ficava ali muitas vezes relembrando as pescarias com meu avô em sua canoa caiçara, aventuras que havíamos feito por aquelas bandas mesmo. Mas certa noite minha atenção se voltou para um carro que parou ao meu lado. Não prestei atenção no carro em si, mas no seu reboque onde havia uma enorme moto esportiva. Tratava-se de um modelo importado, que nunca havia namorado de tão perto. De repente me vi olhando para a minha magrela e a comparando com aquela máquina incrível em um grotesco choque de realidades. Não fazia sentido me questionar se um dia eu teria como comprar uma máquina daquela.
O tempo passou e eu acabei comprando a primeira moto, depois a segunda até que finalmente após a quinta eu deixei para trás o prazer e o perigo das motocas. Não, eu não comprei a superesportiva – fiquei bem longe disso.
O caiaque e os veleiros
Na verdade, já lá pelos 35 anos de idade, agora analista de sistemas, acabei comprando um caiaque oceânico duplo. Um modelo top de linha, este barquinho tinha leme controlado pelos pés, compartimento de carga e outras características que permitiriam a realização de pequenas aventuras.
E entre essas “aventuras”, a que eu mais gostava de fazer com o caiaque era atravessar o canal do porto de Santos e adentrar nos rios de Guarujá onde ficam as marinas. Dessa forma eu passava horas remando lentamente enquanto namorava aqueles veleiros lindos, sempre cheios de equipamentos e soluções que para mim ainda eram indecifráveis. Novamente me peguei imaginando coisas. Desta vez se teria um dia condições de comprar um daqueles barcos. Então me lembrei da magrela e daquela moto superesportiva e logo fiz um paralelo do caiaque com os veleiros -barco é coisa de rico. Era mais um choque de realidades e foi assim que esse devaneio logo se dissipou.
Barco é coisa de Rico?
Outros 10 anos se passaram. Enquanto isso, muita, mas muita coisa aconteceu. Acredite ou não, agora lá estava eu fazendo charter com meu barco, de fato um catamarã a vela de 34 pés de comprimento, adquirido com muitas dificuldades, mas também com muito trabalho e determinação. Para este artigo não importa como, mas o fato é que em determinado momento eu coloquei na cabeça que eu teria meu barco. E aquele velho clichê se realizou: quando você quer e se dedica de coração a algo, o mundo parece conspirar a seu favor. Como você pôde perceber, as coisas não aconteceram do dia para a noite. Projetos grandes requerem tempo e determinação inabalável. Enquanto não tinha como comprar o primeiro barco eu navegava pela internet, dedicando incontáveis horas ao estudo da náutica e do mundo da vela.
Barco é coisa de Rico? Certamente que não.
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